Dilemas que toda mulher padece no ginecologista

Medo de encarar o espéculo? De revelar intimidades? Acabe agora com o sofrimento da visita ao médico.
Que é uma visita essencial à saúde não há dúvida. Mas não conheço ninguém que dê pulos de alegria na hora de encarar o espéculo e tudo o mais que acontece dentro do consultório desse especialista em mulher. A maioria de nós fica ansiosa só de pensar em abrir questões extra-íntimas como o dia em que esqueceu a camisinha numa transa casual, tentou experimentar sexo anal e sentiu dor… É o caso da repórter Valentina Kazan, que aceitou trocar ansiedade por informações claras e tranqüilizadoras diretamente da autoridade de branco. Depois de descobrir se é melhor ir depilada ou ao natural e o melhor jeito para perguntar sobre orgasmo, por exemplo, esse compromisso médico vai mais parecer um passeio no parque.
Para toda e qualquer mulher preocupada com a própria saúde e interessada em ação entre os lençóis, o ginecologista deveria ser o cara. Afinal, quem melhor do que ele para deixar os órgãos que definem a nossa feminilidade funcionando bem? Só que até hoje não vi nenhuma das minhas amigas indo saltitante a essa consulta. certa ansiedade é normal, já que vou mostrar meu corpo (e a alma) a alguém que não chega a ser um amigo íntimo. E, como não há um manual de etiqueta para essa relação delicada, sempre crescem dúvidas na nossa cabeça sobre o que o médico está fazendo lá dentro, para que servem os exames ou como devemos nos comportar (principalmente na parte em que andamos pela sala só com aquele avental). Uma vez que a visita é fundamental, seja para prevenir um corrimento, seja para esclarecer dilemas sexuais, melhor acabar com a tensão dissecando cada segundo desse compromisso tão feminino, certo?
Quase um casamento
Minha amiga Martha*, uma economista de 26 anos, acha que escolher um médico é parecido com eleger um noivo. “Você precisa se sentir à vontade para mostrar seu corpo e falar sobre seus sentimentos mais secretos”, diz. “Ele deve inspirar confiança, mostrar-se aberto sem invadir sua privacidade e saber ouvir sem julgar.” Esses atributos não estão na lista telefônica, que pena! Como então encontrar o ginecologista da sua vida? Tentativa e erro, amiga. Martha passou por nove até achar o ideal, depois de pedir indicações a amigas e familiares. Ok, parece esquisito compartilhar o médico com a sogra, mas tudo o que acontece no consultório é sigiloso.
Homem ou mulher?
Para outra amiga, Cristina, advogada de 28 anos, um estranho tocando seu corpo é impensável. “Prefiro uma ginecologista, porque acho que ela sabe como me sinto”, confessa. Já Valéria, jornalista de 25 anos, pensa exatamente o contrário. “A idéia de uma mulher olhando para minha vagina me dá aflição”, diz. E o que pensa uma ginecologista? Jaqueline Blender, de Porto Alegre, que também é sexóloga, me explicou que, uma vez que os profissionais têm a mesma formação, fazer a opção é tão pessoal quanto escolher o cabeleireiro.
Preparativos do encontro
Tudo bem se você rir de mim. Mas tenho uma dúvida que nunca me esclareceram: devo ir depilada? Alessandra, pedagoga de 31 anos, acha que sim. “Me preparo como se fosse para um encontro, com depilação bem-feita e lingerie bacana”, me contou. Mas espera aí, é consulta ou paquera? O marido de Clarissa, farmacêutica de 26 anos, não gosta dessa história — e pede que ela vá bem cabeluda para não dar “idéias” ao ginecologista. As duas estão por fora, me garantiram os médicos. Primeiro, porque os especialistas não ficam tendo “idéias” sobre as pacientes — se isso acontecer com você, denuncie ao conselho de medicina. “Passamos anos vendo corpos nus e somos educados a não erotizá-los”, fala a dra. Jaqueline. Segundo, porque a depilação pode ser importante para o exame. “Apesar de ser aconselhável não tirar todos os pêlos, já que eles servem para proteger a região, o excesso pode atrapalhar”, explica Amaury Mendes Júnior, ginecologista e terapeuta sexual do Rio de Janeiro. Para a dra. Jaqueline, melhor ir como você costuma ser no dia-a-dia: “Quem tira os pêlos com freqüência pode ter ínguas [pequenos caroços sob a pele] na virilha. Acontece que elas também são sinais de doenças. Se o ginecologista não conhece seus hábitos, pode se confundir”.
Outra dúvida cabeluda: pode transar na noite anterior? Não, dizem os profissionais. Se houver secreções masculinas dentro da vagina, o resultado dos exames fica comprometido — e você vai ter que repeti-los. E nem pense em fazer ducha vaginal para apagar as pistas: elas também interferem no diagnóstico. Caso sua preocupação sejam os odores lá de baixo, saiba que eles são normais. E, se estiverem alterados, podem ajudar a identificar problemas como uma infecção, por exemplo.
Antes só do que acompanhada
Será que é uma boa idéia levar alguém a tiracolo? O marido de Clarissa costuma acompanhá-la, e Valéria acha que uma amiga ajuda a quebrar o gelo. O bom de levar o parceiro é que a consulta também serve para educá-lo. “Terá a chance de tomar conhecimento de algo que você não sabe como dizer, como uma dificuldade no sexo ou doença que diz respeito aos dois”, fala a dra. Jaqueline. Mas ela avisa: é indispensável ter um momento a sós com o médico. “Você precisa de privacidade para fazer — ou responder — certas perguntas”, lembra.
Respira, relaxa, confessa…
Na sala de espera, Raquel, uma designer de 35 anos, baixa a ansiedade lendo contos eróticos. E Paulete, estilista de 27, prefere tomar duas taças de vinho branco. “Fico mais solta para fazer perguntas”, admite. Qual a minha tática? Escrever um listão com dúvidas para o nervosismo não deixar nenhuma escapar.
O começo da consulta é fácil. Conversamos sobre generalidades. Mas aí sou metralhada com um questionário dos meus hábitos, do número de parceiros que tive no último mês às minhas queixas sobre sexo. Essa parte dá medo. Como contar coisas que ninguém mais sabe, tipo aquele dia em que esqueceu a camisinha em uma transa casual? Ou que seu namorado não pára de insistir para fazerem sexo anal? Ou que você fez um aborto? Ou que ele traiu você? Sim, confessar é assustador — muitas vezes, não queremos assumir certos pecados que cometemos. Mas há bons motivos para abrir o jogo. Bancar a esperta e ficar calada só atrapalha. “O médico pode interpretar o silêncio como ausência de problemas. Por isso, se ele não perguntar, tome a iniciativa”, aconselha a dra. Jaqueline. Tem mais: a vida sexual está intimamente ligada a doenças. E não adianta só tratar o problema que o médico encontrou no exame físico — é na conversa que ele descobre por que isso está acontecendo e como prevenir reincidências. Também por isso você tem que falar sobre a vida sexual do seu par. Se ele é ou foi infiel, você pode correr riscos sérios. O mesmo acontece se o moço costuma usar drogas, se já se envolveu em sexo grupal ou com prostitutas. Outra razão para não entrar muda nem sair calada: o ginecologista pode resolver dilemas como aquela dificuldade em achar o ponto G, uma dor esquisita durante o orgasmo ou como fazer sexo anal sem problemas. Se ele tiver formação em sexualidade, melhor. “Muitos ginecologistas não estão preparados para falar de sexo. Mas podem indicar um terapeuta que irá ajudar”, diz o dr. Amaury.
A hora do espéculo
Se não bastasse ter que vestir um avental, é inevitável subir na cama ginecológica e colocar as panturrilhas nas desconfortáveis perneiras. O exame das mamas vem primeiro. Depois, o médico vai dar uma olhada lá embaixo — e aumenta o constrangimento. Ele começa investigando a vulva, grandes e pequenos lábios, períneo. Chega a hora do espéculo, mais conhecido como bico-de-pato. Colocado dentro da vagina, abre as paredes do canal e permite que o médico olhe lá dentro. Socorro! Por mais que a região seja elástica, impossível não sentir algum desconforto. Mas descobri alguns truques para diminuí-lo: “Faça força como se fosse fazer xixi”, me ensinou o dr. Amaury. “Mantenha o bumbum relaxado e deixe todo o peso sobre a cama”, acrescentou a colega Jaqueline. E você sabia que existem espéculos de vários tamanhos, inclusive para virgens? A ferramenta torna possível a realização do papanicolau, exame que consiste em “raspar” algumas células do colo do útero, que passarão por uma biópsia. Depois disso, ainda é costume fazer colposcopia, exame realizado com a ajuda de uma espécie de binóculo, o colposcópio. A rodada acaba e o espéculo é retirado. É a vez do exame de toque. O médico introduz um dedo — ele usa uma luva — na vagina e, com a outra mão, apalpa o abdômen. O objetivo é certificar-se de que o útero e os ovários estão da forma esperada, prevenindo infecções e tumores.
Fora do consultório
Fim do exame. Coloco a roupa e ainda há tempo para mais um dedo de prosa. “É comum que no minuto antes de sair a mulher finalmente fale o que esteve ruminando a consulta inteira”, conta o dr. Amaury. Ufa, livre. Será? Renata, dentista de 23 anos, achou que sim. Até deu de cara com o gineco na academia! “Se você encontrar o médico fora do consultório, aja naturalmente”, sugere a dra. Jaqueline. A maioria não fica analisando a sua vida social ou pergunta “E aquele corrimento, passou?” Se acontecer, troque correndo de médico.
Não vá para a cama sem eles
Enquanto você está deitada, provavelmente não tem a chance de dar uma espiada nos equipamentos usados pelo médico. Aqui estão os principais:
Espátulas
Com elas, o médico recolhe material para o papanicolau e exames de secreção.
Espéculo
De vários tamanhos, usados de acordo com o histórico da paciente, ele serve para abrir as paredes vaginais e permitir uma vista interior do seu corpo.
Colposcópio
Espécie de binóculo com lanterna e lentes de aumento, permite que o médico enxergue o colo do útero.